Por Reginaldo Silva- Professor, Radialista e Jornalista

Jair Messias Bolsonaro veio a Fortaleza para participar do 2º Seminário Nacional de Comunicação do Partido Liberal (PL), mais preocupado em deixar a mensagem de que é perseguido pela Justiça do que, propriamente, com a situação política do estado.
Os sinais do Messias sempre foram claros quando se trata dos interesses da direita. Foi assim durante o exercício da Presidência da República, no período de transição de governo e agora, fora do poder.
Na saída de um restaurante em Fortaleza, Bolsonaro foi questionado sobre a possibilidade de apoiar Ciro Gomes, em virtude dos últimos acontecimentos políticos no Ceará, onde a principal liderança do partido, André Fernandes, teceu comentários elogiosos em relação ao ex-ministro e ex-presidenciável. Ao ser perguntado sobre esse possível apoio, limitou-se a dizer: “Conversa com o André”.
Após conversar com o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, em um hotel da capital, Bolsonaro foi novamente questionado sobre apoios e filiações ao Partido Liberal. Mais uma vez, limitou-se a uma frase curta: “É o pessoal daqui que vai decidir”.
Os sinais de Bolsonaro são claros: ele não vai interferir diretamente na política cearense. Deu as diretrizes da nacional, que vão ao encontro de seu desejo de ampliar o domínio no Senado Federal e de manter a defesa intransigente de qualquer nome que ele venha a apontar como candidato. E ponto final.
O estado é emblemático para a direita por ser o reduto político mais simbólico do PT no Nordeste e o único estado da federação onde o partido elegeu o prefeito da capital. Portanto, trata-se de uma unidade federativa carregada de representatividade política, tanto para a direita quanto para a esquerda.
No seminário de comunicação do PL em Fortaleza, o senador Rogério Marinho atuou como uma espécie de porta-voz da direita. Líder da oposição no Senado Federal, ele falou sobre os apoios do bloco para 2026, destacando duas pré-candidaturas principais: a do senador Eduardo Girão, com quem demonstrou mais conhecimento e afinidade e a do ex-prefeito Roberto Cláudio, a quem se referiu como “Roberto Claudino”, demonstrando pouco apreço à causa e aos nomes locais, por ser um político de um estado vizinho.
A agem do “Messias” por Fortaleza não surtiu o efeito esperado para a oposição. Roberto Cláudio fez a sua parte: desfiliou-se do PDT e se reuniu com Bolsonaro. No entanto, foi dada maior visibilidade ao nome de Eduardo Girão do que, propriamente, ao de Roberto Cláudio, que havia levantado a bandeira da direita e de André Fernandes contra o PT de Evandro Leitão no segundo turno das eleições para a prefeitura da capital cearense.
O seminário do PL em Fortaleza serviu, de fato, para Bolsonaro reforçar sua narrativa de que é perseguido pelo STF. Ele afirmou que lutará contra tudo e contra todos para se livrar da “fumaça preta” do 8 de janeiro, defendendo a anistia como forma de recuperar seus direitos políticos. Também buscou dar visibilidade ao filho, Eduardo Bolsonaro, que, segundo ele, “está lutando pelo país” e que, se estivesse no Brasil, “também já estaria preso”.
Bolsonaro afirmou ainda que vencerá com a ajuda de um “país do Norte”, em referência aos Estados Unidos e ao ex-presidente Donald Trump.
Como se vê, os sinais deixados pelo “Messias” no seminário em Fortaleza dizem mais sobre os planos do clã Bolsonaro de consolidar uma imagem de perseguição política por parte do STF do que, propriamente, sobre a construção de um bloco sólido de oposição no Ceará para enfrentar o PT no estado.